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Bebê ficou 4 dias sozinha depois de morte natural da avó

Por www.em.com.br, 13/01/2016 07h16
 (Foto: Ana Rayssa/Esp. CB/DA Press)
Foto: Ana Rayssa/Esp. CB/DA Press

Bebê que ficou quatro dias sozinha em casa depois da morte da avó está com a mãe
O caso surpreendeu bombeiros, médicos e, principalmente, a mãe, que trabalhava como doméstica em Luziânia, no Distrito Federal.

Dos quatro dias em que ficou sozinha, ao lado do corpo da avó, no bairro Itapoã, no Distrito Federal, Nikolly Maria Landim Santana, 8 meses, guarda o medo de ficar longe dos braços da mãe, a empregada doméstica Débora Landim Santana, 19 anos. A duração de um banho é tempo suficiente para que o bebê chore e exija o conforto materno. Mas o apego após o trauma é a menor das consequências que a menina poderia ter sofrido por ter ficado sem assistência nem comida, entre 18 e 22 de dezembro. Para sobreviver, ela comeu pedaços da fralda e as próprias fezes. Apesar disso, não desenvolveu quadro algum de infecção ou complicações gástricas. A menina estava sob os cuidados da avó, Luzineide Paes Landim, 46 anos, que morreu no dia 18, enquanto Débora trabalhava. Acredita-se que a morte tenha sido por causas naturais.
A mãe de Nikolly morava no Jardim Ingá, em Luziânia, e, uma vez por semana, vinha ao Distrito Federal para encontrar a mãe e a filha. Todos os dias, falava com Luzineide por telefone, pela manhã e à noite. “Na manhã daquela sexta-feira, perguntei se as duas estavam bem. A minha mãe disse que sim. À tarde, liguei novamente, e ela não atendeu”, conta. No dia seguinte, a jovem foi à casa de Luzineide. Tocou a campainha e ninguém veio à porta. Débora imaginou que teria ocorrido mais um desencontro. “Liguei e, de novo, o celular não atendeu. Passei na casa da minha tia, deixei o dinheiro para que ela entregasse à minha mãe”, conta. Foram diversas tentativas de contato, por ligação e interfone. “No domingo, o celular caiu na caixa. Acho que foi quando a bateria acabou”, explica Débora.

No quarto dia em que Luzineide não respondeu às tentativas de contato, Débora foi à casa da mãe com um chaveiro. “Quando ele abriu a porta, veio um cheiro muito forte. Ali, eu me desesperei. Fiquei sem chão, pensei que as duas estavam mortas. Não quis nem entrar em casa”, conta a jovem. O chaveiro entrou na residência e encontrou as duas no quarto, deitadas. Luzineide estava na cama, Nikolly, no chão. De tão debilitada, Nikolly nem sequer reagiu quando o homem chegou ao quarto. “Somente quando o socorrista do Corpo de Bombeiros entrou, ela mexeu a cabeça”, lembra Débora. Quando foi resgatada, a bebê estava com um pedaço de fralda descartável na boca.

Faminta e desidratada, a bebê quase comeu a gaze usada pela equipe do Corpo de Bombeiros para os primeiros socorros. No momento do resgate, ela tinha quatro pedaços de fralda com o gel presos à boca. Por sorte, não engoliu o material. “Caso contrário, ela teria engasgado. Demos o soro para ela dentro da viatura. Ela tomou com voracidade”, detalha o sargento do Corpo de Bombeiros Nelson Antonio Carmo Araújo, 48 anos. Quando entrou na residência, ele não acreditava que encontraria alguém com vida. “Eu coloquei uma máscara e percorri a casa com a lanterna. O quarto era o último cômodo da casa. Joguei a luz e vi um corpo em avançado estado de decomposição na cama. Continuei procurando e joguei a luz na bebê. Nesse momento, ela olhou para mim e piscou. Percebi que estava viva”, lembra o militar.

Atendimento
Em 23 anos de serviço, o sargento nunca viu um caso como esse. Segundo ele, não é comum que crianças, ainda mais nesta idade, sobrevivam a tanto tempo sem comida. “A equipe ficou muito surpresa.” Nikolly foi levada ao Hospital Regional do Paranoá, com quadro de desidratação. “Ela estava muito amarela, com os olhos fundos e a barriga bem funda”, descreve Araújo. Lá, ficou internada um dia, para tratar a hidratação e fazer exames.

Menos de 20 dias após ser resgatada, Nikolly está forte. “Ela adora pão. Quando vê alguém comendo, joga a chupeta longe”, conta Débora. Para ela, o fato de a filha se alimentar bem lhe deu reservas para enfrentar os quatro dias de inanição. “Não sei se ela estaria viva se não fosse boa para se alimentar”, afirma.

Após a perda da mãe, a rotina da jovem se alterou bastante. Ela deixou a casa e o emprego no Jardim Ingá e mora na casa da tia, Maria Neide Landim de Farias, 47 anos. “Já fiz um currículo e estou distribuindo aqui pelo Itapoã. Queria trabalhar em supermercado ou em padaria”, conta. Com o crescimento repentino da família, as contas apertaram. “Agora, somos em 10 pessoas. O meu pai e o meu irmão trabalham, mas a renda só dá para o básico”, revela Magda Landim de Farias, 28 anos, prima de Débora.